Com música de Astor Piazzolla e libreto de Horácio Ferrer, estreou-se na sala Planeta em Buenos Aires, a 8 de maio de 1968, a
opereta Maria de Buenos Aires. O Compositor classificou-a de – Operita- e pode até ser catalogada como teatro musical, o
primeiro do género de ópera-tango, cujo enredo hermético e esotérico se desenvolve através de uma escrita esdrúxula e surrealista,
muitas vezes onírica, esotérica e alucinante, ao longo de 17 quadros, onde alternam secções cantadas, recitadas ou exclusivamente
instrumentais, e onde se apresenta a vida, a morte, a ressurreição e a própria maternidade de Maria de Buenos Aires. Esta opereta é
normalmente apresentada com um ensemble de onze instrumentistas, dois cantores solistas (soprano e barítono), um ator recitante e
um coro pequeno, também ele, recitante.
Na versão agora revisitada, Maria teria sido vítima de uma hipotética tentativa de assassinato nas ruelas suburbanas e sombrias de
Buenos Aires, e encontra-se hospitalizada entre a vida e a morte. Este estado de quase-morte será a sua condição existencial ao
longo do espetáculo, até ao seu renascimento no final da opereta. Enquanto o seu espírito deambula entre o aquém e o além, a mente
alucinada de Maria projeta e revive no palco a história trágica de sua vida de boémia e de subjugação na agitação noturna das ruas
de Buenos Aires, dos seus bares e das ruelas dos seus subúrbios. Numa leitura histórico-sociológica, a figura de Maria enquanto
Maria-Tango, representa o desejo inadequado das populações masculinas suburbanas de Buenos Aires e a sua deriva sexual e
amorosa nos prostíbulos onde convivem com as meretrizes que os frequentam. Por outro lado, Maria, simboliza também, os sonhos
e a subjetividade mágica da cidade portenha. A figura de Maria encerra, igualmente, múltiplas leituras e surge frequentemente num
sincretismo psicológico e religioso associado tanto à figura da Virgem Maria e à de Jesus Cristo como à da própria condição
feminina. Na recriação cénica que agora se apresenta procurou-se encontrar uma unidade que permitisse uma continuidade do fio
condutor da narrativa, evitando desta forma a interrupção constante do discurso musical e o retalhamento da própria história de
Maria que resulta da separação estanque dos 17 quadros com que normalmente a obra vem sendo apresentada desde a sua estreia.
A presente encenação da história de Maria de Buenos Aires começa com a leitura de um jogo de cartas que anuncia a Maria tudo
aquilo que lhe irá acontecer: o seu longo calvário, a sua morte e o seu renascimento através de numa nova incarnação da sua
condição feminina, qual Fénix das cinzas renascida. Maria encontra, deste modo, a possibilidade da sua própria transmutação
mediante um empoderamento adquirido através da consciencialização da história da sua opressão, abuso e subjugação, o que lhe
permite renascer assumindo um novo ser e uma nova existência: consciente, empoderada e libertadora.
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DIREÇÃO ARTÍSTICA E ENCENAÇÃO
António Salgado; Jorge Salgado Correia
DIREÇÃO DE MOVIMENTO E COREOGRAFIA
Cláudia Marisa
COREOGRAFIA – TANGO
Maria Belen Giachello
DIREÇÃO MUSICAL
Jorge Salgado Correia; António Salgado; David Loyd
DIREÇÃO VOCAL
António Salgado
ELENCO
Maria Belen Giachello – Maria e Sombra Maria
António Durães - Duende
Mário Alves – Médico, Cantador Popular e 1º Analista
António Salgado – 1º Analista
Tiago Amado Gomes – Pardal Portenho com Sono e Chefe dos Ladrões Antigos
Miguel Marinho – Tangueiro, Homem que veio do Mistério, Filisteu, Sacerdote, Maçon Esotérico
Gustavo Godinho – Tangueiro, Homem que veio do Mistério, Marioneta (loucura), Voz desse Domingo
Pedro Santos – Tangueiro, Homem que veio do Mistério, 2º Analista/Dono do Circo, Pedreiro (Maçon)
Beatriz Gomes – Enfermeira/ Parteira/Padeira, Bruxa, (Dona da Taberna, Madama, Marioneta (morte),
Lioba Vergely – Enfermeira/Parteira/Padeira, Bruxa, Madama,
Isabel Gundana – Enfermeira/Parteira/Padeira, Bruxa, Madama,
Ana Rita Cruz – Bruxa, Meretriz, Madama, Marioneta (solidão), Empregada do Café,
Jorge Correia – Anjo do desejo, Parceiro Sombra do Tango/Maria, Flauta-Anjo, Músico do Circo (Flautim)
Dario Polonara – Diabo, Bandoneonista
Mário Teixeira – Caixa (músico do Circo)
David Almeida – Pássaro da Morte, Acrobata Aéreo
Jennifer Rodrigues – Mulher de Andas, Alma do Bandoneón-Diabo, Pedreiro/Maçon, Madama, Empregada de Bar
Lorena Sepúlveda – Clown, Alma do Duende, Palhaço Clássico, Madama, Empregada de Bar
ENSEMBLE ORQUESTRAL
1º Violino – Gonçalo Adriano
2º Violino – Sabrina Santos
Viola - David Lloyd
Violoncelo – Nuno Ferreira
Contrabaixo – Nelson Fernandes
Flautas - Jorge Salgado Correia e Eva Senra
Piano - David Ferreira
Bandoneón - Dario Polonara
Bateria/ Percussão – Mário Teixeira e Luís Silva
Guitarra – João Seixo
CORO FEMININO
Beatriz Gomes
Lioba Vergely
Isabel Gundana
Ana Rita Cruz
CORO MASCULINO
Tiago Amado Gomes
Gustavo Godinho
Pedro Santos
Miguel Marinho
CORREPETIDOR
David Ferreira
CIRCO – INAC
David David (Acrobata Aéreo)
Jennifer Rodrigues (Andas)
Lorena Sepúlveda (Clown)